published on
Esta peça foi escrita em homenagem a Mario Juruna e todos os povos indígenas no continente americano.
Mario Juruna (1943 - 2002) foi Deputado Federal entre os anos de 1983 e 1986, eleito pelo PDT (Partido Democrático Trabalhista). Indígena, pertencente ao grupo étnico Xavante, ele foi o único Deputado Federal indígena em toda a história brasileira. Ele começou a ser notado publicamente anos antes de sua candidatura por utilizar um gravador cassete portátil para gravar suas conversas com as autoridades e desmascarar as mentiras de nosso sistema corrupto e corruptor.
A peça usa trechos de alguns dos seus discursos gravados na câmara dos deputados. Sua língua materna era o Gê, uma língua indígena falada por mais de 10 mil pessoas no Brasil. Assim, ele aprendeu a falar português, como sua segunda língua, aos 17 anos de idade, o que contribuiu para um atributo particular de sua fala: uma sonoridade única, especialmente sua entonação, bastante distante da entonação padrão dos discursos políticos brasileiros, e bem mais musical.
Ele foi eleito em um período transicional quando o Brasil estava deixando a ditadura militar e mudando para uma nova democracia. Contudo, o presidente àquela época, João Figueiredo, era ainda uma reminiscência do regime militar. Juruna usou seus discursos com frequência para reclamar e denunciar o autoritarismo do presidente Figueiredo.
Não por acaso, o partido do Figueiredo era o PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro), um dos principais partidos responsáveis pelo golpe jurídico midiático de 2016 no Brasil.
Portanto, essa peça é um eco da voz de Juruna, do passado para o presente.
A peça é estruturada em 5 partes differentes e contínuas:
1. Sentimentos de fundo: onde trabalho com o histórico cultural de Mario Juruna, me inspirando na música Xavante.
2. Primeiro discurso: onde utilizo majoritariamente trechos do discurso que Mario Juruna realizou na câmara no dia 19 de abril de 1983.
3. O bom filho à casa torna (instrumental): inspirado num pequeno televisionado que mostrou um dos momentos em que Mario Juruna retornou à aldeia após ter assumido o cargo de deputado. O principal ponto de inspiração foi uma cena onde uma de suas tias começa a chorar quando o vê;
4. Segundo discurso: onde utilizo apenas trechos do discurso de 9 de abril de 1986, onde ele faz severas críticas ao PMDB e ao PFL (ex-ARENA e agora DEM);
5. Epílogo ou último discurso: o qual utilizei trechos da última fala dele gravada no congresso (até onde tenho conhecimento), em 15 de maio de 2002, anos depois de seu mandato ter terminado, participando de uma comissão especial sobre direitos humanos.
Além disso, também tentei trazer, ao longo da peça, a ideia do gravador portátil que ele utilizava e que foi fundamnetal para uma boa parte de sua atuação como interlocutor entre as chefias indígenas e o governo.
--------------------------------------------
Agradecimento especial ao groupo Deviant Septet, o qual bravamente encarou uma leitura hercúlea da peça: Mike Gurfield (trompete), Bill Kalinkos (clarinete e clarone), Karen Kim (violino), Brad Balliette (fagote), Doug Balliett (contrabaixo), Mike Lormand (trombone), and Jared Soldiviero (percussão).
#deviantseptet #chambermusic #indigenouscauses #mariojuruna #juruna #brazilianmusic #contemporarymusic #newmusic #musicadecamara #musicabrasileira #musicacontemporanea #xavantes #questaoindigena
- Genre
- Clássica