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Ao compor o Requiem, recebi várias influências, de diferentes ordens. Um dos aspectos que me preocupou, desde o início, foi todo o peso histórico / musical, que está implícito numa obra deste tipo, desde a sua origem, passando pelas obras-
-primas que foram sendo produzidas nas várias épocas da História da Música, até às criações musicais propostas por alguns compositores deste século.
A versão original (?), do Requiem, em termos litúrgicos e musicais, ou seja aquela que ainda hoje podemos encontrar, codificada sob a forma de notação neumática (Canto Gregoriano) no Liber Usualis, foi outra fonte à qual eu recorri em termos de inspiração musical. A própria estrutura deste Requiem, em termos formais e mesmo, em alguns casos, melódios e harmónicos, é directamente influenciado pelo Requiem da liturgia gregoriana. Finalmente, o próprio conteúdo dramático, implícito em cada uma das partes da Missa de Requiem, foi a fonte principal de pesquisa, em termos de propostas de conteúdo sonoro.
Cada uma das partes desta obra tenta transmitir o carácter dramático que pessoalmente (e talvez intuitivamente) associei ao texto e função litúrgica inerente. Sem querer falar com profundidade do conteúdo musical, em termos organizacionais, direi apenas que a estrutura harmónica de cada parte deste Requiem se baseia nas diferentes tensões que cada intervalo musical provoca. Como tal, cada uma das partes da obra baseia-se num intervalo, e cada uma destas mesmas partes desenvolve-o de diferentes maneiras. Tudo o resto (melodias, harmonias, tratamento tímbrico e espacial, sonoridades, etc.) deriva daí, e não pode, nem deve, ser descrito, a não ser pelo próprio resultado sonoro, que substitui todas as possíveis palavras.
Requiem não pretende ser uma obra que quebre com o passado, ou que o confronte. A sua essência é basicamente tradicional, na linha de tantas outras obras que já foram, e continuam a ser, compostas, animadas pela mesma força interior que impulsionou muitos outros compositores. Pretende apenas transmitir alguma coisa de muito pessoal, e que talvez até seja mesmo intransmissível. Mas a força desse impulso interior que me leva a escrever música incentiva-me - com toda a dor e alegria que isso provoca - a tentar fazê-lo, apesar de todas as imperfeições e hesitações que sinto, como ser humano, ao tentar criar qualquer coisa que, no fundo de mim, desejo que possa ter alguma coisa de belo.
- Genre
- Classical